E
com dó e dor me despedi de um livro que busquei por tanto tempo e
acabou chegando de surpresa de aniversário. E o que dizer do conto
título desse livro? Eu não sei exatamente. Chorei. Mas não sei se
foi choro de tristeza porque chegou o fim da linha ou se chorei
porque também sinto em mim o mesmo câncer que o personagem. Acho
que chorei porque o livro todo mexe nas lacunas que carregamos. Ele
veio desde o início me desconstruindo e no final quando eu era pó
revirado, ele me fez renascer para uma nova consciência do ato de
escrever. Desde o porquê até a a responsabilidade com quem lê.
Nunca me vi escritora, embora sempre ouvisse que sou boa nisso. Mas
agora sinto que ninguém foge desse dom. E inevitavelmente temos que
escrever os sentimentos e emoções que nem sempre são nossas, mas
que nos são doadas diariamente pela vida. O escritor tem o dever de
dizer o que a maioria não consegue. Então, entendi que é por isso
que quando falo tudo meio confuso a quem me ouve, mas quando escrevo
toco naquele profundo que faz o outro chorar, suspirar, sorrir, se
identificar, me ver…
Ninguém
entra no universo de Caio Fernando e sai dele da mesma forma. E
estranhamente enquanto escrevo isso penso: alguém sai do universo de
alguém exatamente como entrou? Não! Somos canais. Todos nós e cada
qual transforma o outro com as armas que tem.
Caio
me transformou numa deia de escritora melhor. Digo ideia porque não
sei se consigo ainda olhar para mim como escritora, mas sei que sinto
que meus olhos e pensamentos não seguem o fluxo da maioria. E cada
delírio meu diante de algo visto ou vivido nada mais é que o
momento de conceber algo que alguns chamarão de literatura. Ou como
diz o próprio Caio Fernando numa carta que ele escreveu a José
Márcio Penido onde ele fala do processo de criação, eu entendi que
“escrever é enfiar o dedo na garganta”.
Toda
pessoa que se diz LEITOR, tem por obrigação ler essa obra. Tem que
provar o mofo dos morangos e morrer de câncer para renascer essa
outra coisa que sinto aqui agora em mim. Tem que provar “disso”.
Eu não sei definir, mas é uma coisa que inexplicavelmente precisa
ser vivida. E então, no fim do livro com dó e dor entender que de
alguma forma você é parte de um processo que não finda nunca mas
que é de extrema importância estar dentro, fazer parte, sentir o
movimento chacolhar-nos como coqueiros nas tardes de ventania de
verão. Entende? Talvez não ainda. Mas entenderá quando ler. E aí
você fará parte dessa coisa de que falo e que agora você só sente
como uma viagem minha, particular.
Maravilhoso.
É só isso que posso usar para definir “Morangos Mofados”.
Maravilhoso. Ma-ra-vi-lho-so!
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