Depois de algumas leituras mais
intensas como Charles Bukowski, por exemplo, deixei-me repousar suavemente na
minha criança, lendo “O Menino do Dedo Verde”. Está preparado para vir comigo?
Tomara que sim. Detesto viajar sozinha.
Dados
Bibliográficos do Autor
Maurice Druon, nasceu em 23 de abril de
1918, em Paris. Participou ativamente da luta antinazista em 1940, com o tio
também escritor Joseph Kessel em 1943 – compõe a letra do canto Les Partisans, ainda hoje ouvida com
grande emoção pelo povo Francês. Em 1953 a Comédie
Française encena a sua peça Um
Voyageur. Fica bastante conhecido por seus recitais históricos, que sempre
alcançam vasta audiência.
Maurice Druon tem a sua obra marcada
pela violência e vigor característicos de sua vida pessoal, onde o choque das
armas e o trágico das paixões contam uma fase importante na literatura francesa
contemporânea.
Capítulo Primeiro
“... Mas as pessoas grandes,
que não compreendem os protestos dos recém-nascidos
e teimam em sustentar suas ideias pré-fabricadas”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Sempre me surpreendo
com crianças e suas perguntas que não aceitam “porque sim” ou “porque não” como
respostas. O que elas não sabem é que gente grande também não tiveram respostas
quando crianças. Então, repetimos os “porquês” que recebemos na maioria das
vezes. Embora, eu confesso, de vez em quando invento meus próprios “porquês” e,
acreditem, eles são bem mais divertidos.
“Isto prova simplesmente que as ideias pré-fabricadas
são ideias mal fabricadas. (...)
Se só viemos ao mundo para ser um dia gente grande,
logo as ideias
pré-fabricadas
se alojam facilmente em nossa cabeça. (...)
Mas, quando a gente veio à terra
com determinada missão (...).
As ideias pré-fabricadas,
que os outros manejam tão bem,
recusam-se a ficar em nossa cabeça (...)
Causamos assim muitas surpresas.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Quanto mais
amadurecemos mais crescem nossas dúvidas. Amadurecimento está diretamente
ligado ao questionar-se. E tal que podemos ter no fim, são conceitos que anulam
conceitos anteriores, não há ponto final. Numa vida bem vivida só cabe
reticências
Capítulo Cinco
“A preocupação de uma ideia triste
que nos comprime a cabeça ao despertar
e permanece ali o dia todo.
A preocupação se serve de qualquer meio
para penetrar nos
quartos;
ela se insinua como o vento no meio das folhas,
monta a cavalo na voz dos pássaros,
desliza pelos fios da campainha.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
A preocupação, para
mim, é um bichinho que chega na madrugada quando tudo é silêncio. Ela chega, se
enfia nos meus travesseiros e não me deixa dormir com um zumzumzum danado que
arruma em minha cabeça. Aí me levanto para não pensar mais no barulho, me sento
e ficando olhando pelas frestas o céu ora estrelado ora negro ora chuvoso... E
olhando o céu vivo petica e nem vejo quando a preocupação vai embora rua a
fora.
“A vida, afinal, é a melhor escola que existe.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Experimentar. Esse é
o verbo que rege minha vida. Eu quero sentir tudo que posso. E cada vez que a
vida me oferece algo novo, ainda que eu me assuste, eu prov. Na vida é preciso
coragem para agir. Disse outro dia alguém que ninguém pode andar por aí
arrastando o passado como se estivesse preso a perna. É preciso entender que o
passado é referência e o futuro é planejamento. A vida acontece no presente;
segunda a segunda em 24 horas de oportunidades.
Capítulo Seis
“... Os talentos
ocultos, em geral, trazem aborrecimentos.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Qual é seu dom? Já se
perguntou isso? Qual é o seu porque nesse mundo? Eu associo muito dom com nossa
razão no mundo. Acho que o meu é levar alguns a refletir sobre si através das
minhas próprias reflexões sobre mim. Eu resumo, minha função ou dom é sentir, e
escrever meus sentimentos. E você?
Capítulo Sete
“Sem ordem, uma cidade, um país, uma sociedade
não passam de um sopro e não podem sobreviver.
A ordem é uma coisa indispensável.
E, para manter a ordem,
é preciso punir a desordem!”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
E quando a desordem é
por dentro? Então, tudo vira um horror. É preciso que os sentimentos estejam
todos alinhados para que nosso interior esteja bem. Mas, as vezes, um ou outro
sentimento cisma de sair do lugar. E aí a gente chora, a gente sofre, a gente
de despedaça... Numa prisão onde pôr os sentimentos que se rebelam. E o que se
pode fazer? Para mim, resta a poesia. Sentar e chorar meus versos, meus contos,
que alguém lerá e nem imaginará que se trata do fruto de uma punição ou do
fruto da cura de uma dor.
“’É preciso vigiar de perto esse menino;
ele pensa demais!”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Pensar é, entre todas
as ações, a mais perigosa para os ditadores e para os obedientes. Porque pensar
nos leva além de onde nos querem. Quem pensa não aceita tudo sem saber o real porquê.
Quem pensa adapta ideias ao invés de simplesmente repeti-las. Quem pensa é
livre e lutará pela própria liberdade como um desesperado; porque sabe que é em
liberdade que todo ser deve viver.
Capítulo Nove
“As pessoas grandes
tem a mania de querer,
a qualquer preço, explicar o inexplicável.
Ficam irritadas com
tudo que as surpreende.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
E esses conceitos
tiram o brilho das coisas porque as generalizam. As pessoas conceituam,
minimizam, maximizam, fragmentam, rotulam. Se não houver um conceito há quem
não durma. O pior é que quando isso envolve gente que não cabe em nenhum rótulo
eles banalizam chamando de “loucos” e os colocam de lado que é mais fácil que
encarar suas frustrações.
“Quando a gente está
feliz,
sente vontade de dizê-lo
e até mesmo de gritá-lo.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Sou da filosofia de que gente feliz não enche o saco. Então,
costumo desejar sempre o melhor a todos
que me cercam. Mas acho que felicidade varia de pessoa para pessoa. Eu
geralmente fico feliz quando tenho livro novo ou quando as coisas estão bem
para meus filhos. O que é felicidade para você?
“As
flores não deixam o mal ir adiante.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Nunca liguei para ter um jardim. Mas de uns dois anos para
cá comecei um pequeno espaço com plantas. Nem é um jardim. É só um cantinho
verde com pimenteiras, avenca, renda portuguesa, coqueirinho... Um pedaço onde
me sento e sinto a paz fluir. Concordo plenamente com o autor: as flores são um
escudo contra o mal.
Capítulo Dez
“A
gente se habitua a tudo,
mesmo
às coisas mais estranhas.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Foi estranho
amanhecer sem a voz do meu pai quando ele se separou de minha mãe. Anos depois,
foi estranho amanhecer sozinha quando eu me separei. Foi estranho entender que
aquela mulher não era minha mãe de verdade. E foi estranho chamar pelo nome a
mulher que era. A vida é composta de estranhamentos. E ceiam feliz a mesa
aqueles que sobrevivem a eles.
“__
As favelas são um flagelo. – declarou ele.
__
E o que é um flagelo? – perguntou Tistu.
__
Um flagelo é uma desgraça grande
que
atinge muita gente ao mesmo tempo.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
O país onde moro é
uma grande favela. Quem não é flagelado socialmente; é favelado
moralmente. O meu país maltrata seu povo
negando-lhes valores. Ah, se eu fosse como Tistu! Fecundaria a terra com
frutas, flores, legumes e verduras. Porque nós pobres flagelados merecíamos ter
de tudo nesse país em que se plantando tudo dá.
“__
Mas por que toda essa gente
mora em casinha de coelho? – perguntou de
repente.
__
Porque não possuem outra casa, é claro. Isso
é
uma pergunta idiota – respondeu o Sr. Trovões”
__
E por que é que eles não têm outra casa?
__
Porque não têm trabalho.
__
E por que é que eles não têm trabalho?
__ Por que não têm sorte.
__ Por que não têm sorte.
__
Então, quer dizer que eles não têm coisa alguma?
__Sim,
e miséria é isso.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Isto... Isto que nos negam. Isto que nos privam. Isto que
nos escondem. Miséria é este vazio no estômago, no bolso, no coração, na
alma... Miséria é não ter mais esperança de ser. Miséria é isto! Isto tudo que
adoece a humanidade nos lares, nos becos, nas esquinas prostituídas. Miséria
sou eu que escrevo segura em minha sala e você que lê seguro na sua. Miséria é
o que nos espreita no canto da janela. É isto! E isto tudo é miséria!
“Os
sentimentos generosos
privam-no
do senso da realidade.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Tal como quando
alguém diz “te amo!” ingênua e docemente transportamo-nos até o tempo onde o
sonho é possível. “Eu te amo!” tira o raciocínio lógico e põe emoção no lugar.
E porque será que alguns insistem em dizer que amam se não amam? Ah, Tistu, a
tal ordem não existe mesmo.
Capítulo Onze
“__
Para a gente saber se é infeliz,
é preciso primeiro ter sido feliz.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
E o contrário também
é válido! Os opostos fazem isso: são para lembrar que o outro lado existe. E vendo
assim a tristeza não é tão triste, nem a doença é tão dolorida... É só lembrar
que seremos felizes ou saudáveis amanhã.
“__
É que para cuidar direito dos homens
é preciso amá-los bastante.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
E o médico de todos
os médicos que conheço é Jesus. Nunca vi um amor que cura como o dEle. Ele,
para mim, é a esperança de que amanhã pode ser melhor., é a força para esperar
esse amanhã. Ele me ama e me cura, não importando-se com quantas vezes eu me
ferir.
Capítulo Doze
“Aliás
é sempre perigoso zangar-se
com
aquilo que não se compreende.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Quantos gritos foram
ouvidos e quantas portas foram batidas? Tudo porque alguém não conseguiu
entender. Quanta gente saiu chorando e quanta gente ficou sozinha? Só porque um
não quis escutar. Tudo podia ser diferente se todos tivessem um pouco de boa
vontade para fazer ser.
Capítulo Catorze
“Quando
os grandes falam em voz alta
as
crianças não ouvem.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Nem os pequenos nem
os grandes! Os gritos só tornam mais distantes os corações e os ouvidos.
“Numa
guerra, todo mundo perde alguma coisa.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
E ainda há os que
insistem em armas ao invés de amor. Meu estado vive uma guerra triste não há
quem perca mais ou menos. Porque estão todos perdendo a fé e a noção de
fraternidade. Pais e mães choram todos os dias pelos filhos perdidos. Esposas e
maridos lamentam seus amores enterrados. Flores ficam tristes por enfeitarem
sepulturas. Pobrezinho do meu Rio de Janeiro tão cheio de guerra.
Capítulo Dezoito
“O
Sr. Papai era bom como já disse.
Era
bom e era negociante de canhões.
À primeira
vista, isso não parece compatível.
Adorava
seu filho e fabricava armas
para
levar a orfandade os filhos dos outros.
Isso
acontece mais do que se pensa.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
O que corrói o mundo
são os homens que o habitam. E pensando assim fica mais fácil gostar dos
animais, das flores, dos elementos... O homem, na sua maioria, só faz o que é
bom para si e ainda acham justificavas para isso. Pouca importa o que causará
ao outro se tal estiver perfeito para ele. E o egoísmo destrói o mundo.
“As
mães se julgam sempre um pouco culpadas
quando
os filhos perturbam
a
vida das pessoas grandes
e
correm o risco de sofrer as consequências.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Desde que nos
tornamos mães, entramos numa espécie de comunhão com a terra e passamos a ser
mãe de todos. Que o mundo seja bom pelo ventre de todas as mães!
Capítulo Dezenove
“Pois
fiquem sabendo
que
nunca conhecemos ninguém completamente.
Nossos
melhores amigos reservam sempre surpresas.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Acho muito divertido
quando alguém diz que conhece bem alguém. Geralmente quem diz isso não conhece
nem a si. Somos criaturas em constantes mudanças, porque estamos em constante
aprendizado. Quem sou eu? Será sempre o maior enigma que terei que desvendar
enquanto eu viver. E não é diferente com você que me lê agora.
“As
pessoas grandes não querem chorar,
e fazem
mal, porque as lágrimas
gelam
dentro delas, e o coração fica duro.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
Será que eu sou assim
tão frágil, porque me permito chorar? Se assim for, meu coração é como asas de
borboleta e isso explicaria bem minha paixão por elas.
“Mas
a morte zomba dos enigmas.
Ela
é o que os propõe.”
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
(Maurice Druon, in “O Menino do Dedo Verde”)
A morte... Tenho
pensado e falado muito dela. Ela sempre me atraiu sempre me fascinou. Não de
uma maneira mórbida, mas como encantamento e respeito. Minha única direção.
Minha única certeza.
Conclusão
O livro segue um pouco antes do grande desfecho. Mas não vou
contá-lo, é claro! Você terá que ler a surpresa final. Tudo que posso dizer é
que minha criança interior ficou tão feliz que saiu pelos meus mundos
interiores a correr e cantar. Acho que ela foi procurar Tistu. E acho que eles
aprontarão muito por aí.
Beijos e até breve!
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