Para Todos
Lá está ela com seus olhos presos no mar. Olhos vazios a encarar o mar calmo. E Chronos, por piedade, recorta o tempo para prendê-la em algum pensamento feliz. Já faz tanto tempo que ela não vinha... Hélio aproxima-se tentando devolver um pouco de calor ao seu olhar frio. Onde parou o sorriso que a acompanhava nesses momentos junto ao mar? Poseidon proibiu os serenos de cantar. O silêncio da mulher há de ser respeitado, pois é silêncio de dor. E o mar muda de cor e ela nem percebe. Calíope beija o rosto da amiga na tentativa desesperada de acordá-la. E Érato beija-lhe a boca. Contudo, seus olhos estão pousados em algum tipo de mistério particular e logo tudo se cobre de negro. Selene toma lentamente seu lugar no céu. E finalmente ela respira mais fundo buscando forças. Encara o céu. Selene sorri argêntea e solidária. Conhece bem os conflitos da mulher, ela própria é mulher também. "Não há paz na noite que se inicia", anunciam as ondinas ao tocarem a areia. "Mas quem precisa de paz?", responde Éolo da beira do cais. E Psiquê abraça a mulher a fazendo caminhar sem que a rua a perceba. Porque ninguém consegue entender que as Erínias, apesar de tudo, também são capazes de amar.
(Waleska Zibetti, in "Para Todos")
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