Ah, lá vai ele! Veja ali! Correndo louco sem se importará
com o que acontecerá depois. E como é lindo vê-lo livre, independente, criança
brincando solta por aí. Você sabe quem é ele? Ao menos imagina? Ele é conhecido
como Tempo. O Tempo é uma criança que nem consegue educar para passar da
maneira correta pela vida da gente. E tudo que podemos é tentar aprender com os
amigos que ele traz com ele.
Quando se é criança, o Tempo nos traz a Curiosidade. Menina “mexedeira”.
Vai dali para lá perguntando o porquê de tudo. Revirando e experimentando. Corre
riscos o tempo todo porque tem memória curta. Só aprende com a repetição. Só
aprende com a experiência. Não adianta dizer a ela simplesmente “não”, ela não
está pronta para entender. Quer o risco porque não sabe o que é perder.
Quando se é adolescente, o Tempo nos visita de braços dados
com a Ilusão. Ah, como é linda essa garota! Ela usa uma veste dourada de
estampa floreada de sonhos e é muito elegante
e charmosa por trás de suas máscaras.
Não vamos culpá-la pelo hipnotismo que nos causa. Ela é meio mágica e adivinha
nossas necessidades. E, sendo assim, tira de suas vestes alguns sonhos para pôr
aos nossos pés. Mas ainda somos jovens para perceber as oportunidades, ainda
idealizamos um mundo diferente daquele que nossos pais nos mostram; ainda não
temos espinhos fortes para nos proteger somos somente botão cheio de vontade de
se abrir e ser diferentes no meio de jardim de mesmice; ainda não diferenciamos
as armadilhas da paixão do terno envolvimento do amor. A Ilusão se diverte, então, com nosso
desespero ao cair de volta no mundo real. Perversa essa menina! A maioria do
que nos dá, ela nos tira quando se vai.
Mas o Tempo é bondoso. Depois que a Ilusão se vai, o Tempo cuida
de nós, zela por nós. Vai dizendo baixinho que tudo vai passar. Vai soprando
ensinamentos e nos modelando enquanto nos leva por aí em pequenos passeios com
ele pelas ruas da Vida. E quando nos damos conta, não somos mais um botão. Somos
rosa e temos perfumes que atraem e espinhos fortes que repelem.
Então, o Tempo chega com o Discernimento, a Maturidade, a
Ponderação... As vezes, traz o Amor com ele. E o Carinho, também. Eu gosto mais
do Carinho que do Amor. É que o Carinho gosta de se sentar conosco na varanda
para conversar, repara no nosso olhar, sorri cativante, abraça sem pressa. Já o
Amor é cego, coitado, chega esbarrando em tudo. É preciso que se cuide bem dele
ou ele faz um estrago enorme por onde ele passa. É difícil quem conhece o Amor
sem perder algo. Nem que seja um pouco de Juízo que tenha plantado em algum
canto do jardim. Mas vou lhe dizer uma coisa que já aprendi há muito tempo: não
adianta tentar detê-lo no portão. Ele pula o muro quando estamos distraídos e
quando nos atentamos... PIMBA! Ele já entrou, já bagunçou tudo e só nos resta curtir
sua estadia.
Sabe? O Tempo, apesar de menino, é muito sábio. Quem se dispõe a observá-lo e
pensá-lo, aprende muito. Aprende-se que é preciso doar-se sem esperar doação em
troca. Que amor-Éros é bom, mas o que muda tudo a nossa volta é o amor-ágape.
Que o nosso tempo é Chronos, mas é no tempo divino, Kairós, que as coisas
acontecem. Aprende, por exemplo, que a vida é feita de antíteses: perder e
ganhar, esperar e prosseguir, sonhar e realizar, chorar e sorrir, amar e odiar,
querer e conseguir... Chegar e partir.
Waleska Zibetti
Waleska Zibetti
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