“Quando
o mistério
é
impressionante demais
a
gente não ouça desobedecer”
(Antoine
de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
Quando vi “O Pequeno Príncipe” pela primeira vez,
eu era ainda muito pequena para entender o gigantismo daquela obra. Contudo,
lembro-me que sentada no colo de meu pai, chorei inconformada porque o piloto
fora descuidado permitindo assim que o principezinho fosse se encontrar com a
serpente. E o meu pai dizia “Um dia você irá entender”.
Ao longo de minha vida, li centenas de vezes esse
livro. E a cada vez que relia, entrava em um dos personagens. Todas as vezes
que leio, é como livro novo. Um novo ponto me chama atenção. Um novo personagem
sou eu. Como se o livro se reescrevesse toda vez que o fecho.
“Quando a gente anda sempre para a frente,
não se pode mesmo ir longe...”
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
O principezinho me ensinou que na vida é preciso
desviar o caminho, perder-se por aí no inimaginável para se testar, se
explorar. Quando não estamos no caminho que esperam de nós, damo-nos a chance
de ficar só, de repensarmo-nos e reinventarmo-nos. Estar só por caminhos
inesperados, é a chance para o autoconhecimento. E posso, afirmar-lhes
queridos, nada é mais incrível que poder se conhecer profundamente. Conhecer-se
é respeitar-se! E quando nos
respeitamos, entendemos a grandeza que há no respeito pelo outro. Porque
passamos a nos ver como um universo de sentimentos e emoções vivas; e se assim
somos, o outro também será. Somos nesse mundo uma imensidão de universos que se
unem, se chocam, se expelem... Dentro da proteção de um universo maior que nos
aproxima e iguala em importância. Complexo? Sim! Mas não inadmissível.
“É triste esquecer um amigo”
(Antoine
de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
Nesses
meus momentos comigo, penso muito em quantos me perderam e que perdi. Algumas
pessoas, eu realmente gostaria de reencontrar. Fico pensando se essa pessoa
pensa o mesmo sobre mim. Deve ser bom quando menos se espera abrir a caixa do
correio e encontrar um cartão dizendo “Lembrei de você!” depois de longos anos
de silêncio. Mas eu já mudei tanto de endereço que sei que esse cartão nunca
chegará. E isso me lembra que o tempo passa e que mudamos. É preciso aprender a
não perder pessoas por aí!
Já
reparou que a velhice é solitária? Mesmo para os que são avós de dezenas de
neto, há um não sei que de saudade em seus olhos. E em algum momento eles se
sentam olhando para além de si e provavelmente procuram pessoas dentro deles,
rostos e histórias que se perderam deles. É, por isso, que precisamos ser
pacientes com os velhos. Quanto mais velho mais foram esquecidos e mais
esqueceram. E quanto não deve ter de
saudade neles. Saudades de setenta, oitenta anos doendo em seus peitos. Pense
nas suas saudades e multiplique pelos anos seus pais e avós. Consegue sentir a
carência deles agora?
“Há
milhões e milhões de anos que as flores produzem espinhos.
Há
milhões e milhões de anos que, apesar disso, os carneiros as comem.
E
não será importante procurar saber por que elas perdem tanto tempo
produzindo
espinhos inúteis? Não terá importância
a
guerra dos carneiros e das flores?”
(Antoine
de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
Por que persistimos em velhos erros? Por que insistimos em reabrir feridas? Já pensou nisso? “Nunca mais caio nessa!”, repetimos para pouco tempo depois sermos levados aos mesmos erros como se um vício nos tomasse e nos arrastasse por ele. Cansei de esmurrar as paredes, sabe? Hoje vejo que é preciso errar para evoluir. E que a tentativa em velhas causas é a crença de que um dia tudo muda. E essa crença é fundamental para que não desistamos de nós, do outro, da vida, da fé, do amor... Errar é a certeza de que não ficamos indiferentes as nossas necessidades; a certeza de que tentamos, de que nos superamos... Errar é evoluir. Evoluir é ampliar-se tirando os olhos de si para ganhar o mundo. Estamos de passagem aqui rumo a um lugar maior para onde só irão os que entenderem esse processo evolutivo doloroso, às vezes, mas necessário.
“Não
soube compreender coisa alguma!
Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras.
Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras.
Ela
exalava perfume e me alegrava...
Não
podia jamais tê-la abandonado.
Deveria
ter percebido sua ternura
por
trás daquelas tolas mentiras.
As
flores são tão contraditórias!
Mas
eu era jovem demais para amá-la.”
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
Essa
é uma das partes que mais releio no livro. Onde mais choro. Sou dessas pessoas
que a maioria não entende e que por não entender rotula ou abandona. Tenho em
meu coração sentimentos inexplorados e sufocados. De todos eles, o que mais
lateja é o amor. Queria muito ser amada! Mas sou a rosa que o príncipe não viu
até ser tarde demais. Sou a rosa que vaidosa esconde a carência de amor. A rosa
que orgulhosa não diz “Fica!” preferindo sustentar o olhar e a voz forte no
“Adeus!”.
Quantas vezes o orgulho matou você? Quantas vezes a vaidade sabotou sua felicidade? Despercebidos, deixamos sentimentos tão mesquinhos detonarem com jardins de sentimentos lindos que levamos anos para cultivar. Ah, como somos ignorantes em relação ao amor! Ainda estamos nas cavernas escuras no que diz respeito a doar. Somos sempre rosas abandonadas ou príncipes abandonadores. Procurando além o que na maior parte das vezes está tão ao alcance de nossas mãos. Por quê? Você sabe o porquê disso? Sabe por que nos esquecemos de dizer “eu te amo” ao longo dos anos ou porque nos esquecemos de dizer “você é especial” para alguém que admiramos? Pois é! A maioria de nós é eternamente jovem demais para amar.
Quantas vezes o orgulho matou você? Quantas vezes a vaidade sabotou sua felicidade? Despercebidos, deixamos sentimentos tão mesquinhos detonarem com jardins de sentimentos lindos que levamos anos para cultivar. Ah, como somos ignorantes em relação ao amor! Ainda estamos nas cavernas escuras no que diz respeito a doar. Somos sempre rosas abandonadas ou príncipes abandonadores. Procurando além o que na maior parte das vezes está tão ao alcance de nossas mãos. Por quê? Você sabe o porquê disso? Sabe por que nos esquecemos de dizer “eu te amo” ao longo dos anos ou porque nos esquecemos de dizer “você é especial” para alguém que admiramos? Pois é! A maioria de nós é eternamente jovem demais para amar.
“As pessoas grandes
são
muito esquisitas”
(Antoine
de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
Quando
eu tinha dez queria ter quinze. Quando fiz quinze queria ter dezoito. E quando
fiz dezoito desejei nunca envelhecer. E não envelheci!
Meu invólucro está velho, já até meio cansado, mas minha alma permanece intacta com dezoito anos. Sonhadora, libertária, esperançosa, imaginativa... Todos os dias acordo e olho o mundo com olhos de explorador. Há dias que vou aos castelos resgatar pessoas de masmorras, em outros caço dragões, há dias de romances em mundo desconhecidos e dias espartanos. Choro e sofro como qualquer um. Todavia, a vida é inexplicavelmente mágica a meu ver hoje. E assim, sou inexplicavelmente feliz.
Meu invólucro está velho, já até meio cansado, mas minha alma permanece intacta com dezoito anos. Sonhadora, libertária, esperançosa, imaginativa... Todos os dias acordo e olho o mundo com olhos de explorador. Há dias que vou aos castelos resgatar pessoas de masmorras, em outros caço dragões, há dias de romances em mundo desconhecidos e dias espartanos. Choro e sofro como qualquer um. Todavia, a vida é inexplicavelmente mágica a meu ver hoje. E assim, sou inexplicavelmente feliz.
“Os vaidosos só ouvem os elogios”
(Antoine
de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
A
passagem do príncipe pelo planeta do vaidoso, do bêbado, do empresário, do
acendedor e o geógrafo; pode parecer tola, mas são alfinetadas nos adultos. Tão
afiadas alfinetadas que, geralmente, os adultos não as citam em seus
trechinhos. E tem muitas coisas bacanas por lá, tais como:
“__ Mas só tu moras no teu planeta!
__ Dá-me esse prazer. Admira-me assim mesmo!
__ Eu te admiro – disse o principezinho, dando de ombros. – Mas de que serve isso?”
“__ Mas só tu moras no teu planeta!
__ Dá-me esse prazer. Admira-me assim mesmo!
__ Eu te admiro – disse o principezinho, dando de ombros. – Mas de que serve isso?”
“__ Por que bebes? –
perguntou-lhe o pequeno príncipe.
__ Para esquecer –
respondeu o beberrão.
__ Esquecer o que? –
indagou o principezinho, que já começava a sentir pena dele.
__ Esquecer que eu
tenho vergonha. – confessou o bêbado baixando a cabeça.
__ Vergonha de que? –
perguntou o príncipe, que deseja socorrê-lo.
__ Vergonha de beber!
– concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio.”
“__ Como pode a gente
possuir estrelas?
__ De quem são elas? – respondeu, exaltado, o empresário.
__ De quem são elas? – respondeu, exaltado, o empresário.
__ Eu não sei. De
ninguém.
__ Logo, são minhas, porque pensei nisso primeiro.”
__ Logo, são minhas, porque pensei nisso primeiro.”
“__ Bom dia. Por que
acabas de apagar teu lampião?
__ É o regulamento –
respondeu o acendedor. – Bom dia.
__ Qual é o
regulamento?
__ É apagar o meu lampião. Boa noite.
__ É apagar o meu lampião. Boa noite.
E tornou a acender.
__ Mas acabas de
acendê-lo de novo?
__ É o regulamento – respondeu o acendedor.
__ É o regulamento – respondeu o acendedor.
__ Eu não compreendo –
disse o príncipe.
__ Não é para
compreender – disse o acendedor. – Regulamento é regulamento. Bom dia.”
“__ O seu planeta é
bonito. Há oceanos nele?
__ Não sei te dizer – disse o geógrafo.
__ Não sei te dizer – disse o geógrafo.
__ Ah! (O
principezinho estava decepcionado.)E montanhas?
__ Não sei te dizer – disse o geógrafo pela terceira vez.
__ Não sei te dizer – disse o geógrafo pela terceira vez.
__ Mas o senhor é
geógrafo.
__ É verdade – disse o
geógrafo – Mas não sou explorador. Faltam-me exploradores!”
Esses encontros são partes onde o autor mais espeta os defeitos típicos dos adultos: o “eu me amo”, os “fins justificam os meios”; o “eu tenho dinheiro, logo posso tudo”, o “siga as regras sem questionar” e o “cada macaco no seu galho”. Eu particularmente acho incrível. Natural já que não sou adulta! Lembra-se? Ainda tenho dezoito. E ainda me pego a pensar, como o principezinho, que “as pessoas grandes são mesmo extraordinárias”.
“__
Onde estão os homens? - tornou a perguntar o principezinho.
__ A
gente se sente um pouco sozinho no deserto?
__Entre
os homens a gente também se sente só
-
disse a serpente. ”
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
A
solidão é o mal do mundo moderno. Conheço Paris, mas não conheço meu vizinho.
Leio “The New York Times”, mas não sei o que se passa no meu bairro. O mundo
ampliou-se, mas estreitou as nossas relações com ele. Temos meios de
comunicação que nos aproximam do mundo todo, mas não nos falamos mais à mesa de
jantar. Isso é esquisito, não é? Eu não sei nada de você que, através dessa
leitura, me conhece um pouco. E você está lendo isso porque esse blog me
conecta com você que não sei quem é e que está não sei onde, mas que de algum
modo agora estamos juntos. E você me dirá que livros fazem isso e são
seculares. Sim! Mas eu nunca escrevi um livro. Logo, poderia ser só um rascunho
qualquer num fundo de gaveta. Você nunca me conheceria, entende? Nunca leria
meu pensamento. Veja que louco! Estamos nos falando, mas eu não estou aí e você
não está aqui. Só que eu já pressinto você e você já sente a mim. A-rá! Somos
dois loucos!!!
“__
Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde,
Desde
às três eu começarei a ser feliz.”
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
A
parte da raposa é a parte mais lírica de todo o livro, em minha opinião. Por
volta dos trinta, penso que todos somos raposas no trigal. Mesmo que estejamos
no melhor dos relacionamentos, na casa dos trinta uma lacuna se abre em nós e
um abismo a nos observar encantador e enigmático. Esse abismo nos convida para um
mergulho as cegas para dentro dele. Começamos a questionar tudo: amigos,
parentes, posturas, escolhas, amores... Tudo precisa ser revisto. E então, nos
sentamos no trigal com olhos esperançosos a espera de alguém que deverá chegar
e nos alegrar. O que demoramos a
descobrir - e alguns nunca descobrem – é que esse ser tão esperado somos nós
mesmos.
Passamos
a vida toda encontrando pessoas todos os dias. Pessoas passam por nós como se
nossas vidas fossem passarelas. Mas raramente temos tempo para nós. E vamos
tornando tão carentes que um dia essa carência vira abismo e nos deparamos com
uma realidade onde tanto temos e tudo nos falta. Partimos, as vezes, para
vícios ainda piores: traição, auto-destruição, vícios químicos... Quando toda a
cura para a lacuna aberta está no simples fechar de olhos e mergulho em si.
Somos
como os oceanos. Já reparou? Conhecemos da lua, os astros, história de
bilhões de anos atrás, e inúmeros textos literários e seus autores, mas não
nos conhecemos. Ainda não podemos definir ao certo quais monstros se escondem
dentro de nós. E a pergunta “Quem é você?” é respondida de maneira socialmente agradável,
mas nem um pouco verossímil.
“As
estrelas são belas
por causa
de uma flor
que não
se pode ver...”
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
Qual
a sua razão de sorrir? Qual a sua razão para continuar? O príncipe tinha a
rosa. Eu tenho a poesia. O que você tem?
Tudo
que nos motiva é intrínseco, pessoal e particular. Há em todos nós buscas que
ninguém entende. E sabe o que penso? De alguma maneira as minhas buscas serão
importantes para você. E as suas serão para mim. Você não me conhece, mas está
aqui a um longo tempo me lendo, se envolvendo em meus sentimentos e impressões.
Quantas vezes você já me contestou e quantas vezes você concordou comigo? Se
meus pensamentos não trouxessem nada para você, você já teria partido. Então,
meu dom de escrever, de me expressar por palavras é importante para você que
talvez não tivesse parado para pensar no que leu aqui ou simplesmente, não
teria conseguido dizer com palavras embora os sentimentos se equiparem.
As
estrelas são bonitas para mim, não por uma rosa que não vejo, mas porque elas
me dão a esperança de que há em algum lugar alguém olhando para elas e pensando
em mim também. Alguém que não posso mais ver, mas sei que me espera. Então, por
que as estrelas são bonitas para você? Talvez essa noite você as olhe e
pense: são bonitas porque a li.
“__As
pessoas veem estrelas de maneiras diferentes.
[...]
Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve...
__
Que queres dizer?
__Quando
olhares o céu a noite, eu estarei habitando uma delas,
E de
lá estarei rindo; então será, para ti, como se toras as estrelas rissem!
De
forma, tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir!”
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
(Antoine de Saint-Exupéry, in “O Pequeno Príncipe”)
Desde a primeira vez
que vi “O Pequeno Príncipe” e chorei no colo do meu pai, muitas coisas
aconteceram. Eu cresci, mudei, sofri, venci, perdi, vibrei... Li e reli essa
história tantas vezes que quase sei de cór. E quando chego ao final ainda
choro, mesmo que hoje não tenho mais um colo para amparar minha indignação. Mas
a frase de meu pai “Um dia você irá entender”, tem todo sentido do
mundo. As vezes, para sobreviver nessa vida tão exaustiva e exigente é preciso
ter coragem de morrer. Então, quando eu
atinjo o ponto mais extremo de mim, pego coragem e me atiro no abismo. Mergulho
para a morte daquela fase e ressurjo em algum outro lugar renovada. Então, fico
em paz nas minhas noites deitada ouvindo no ar som bom da risada de meu pai sorrindo
para mim das estrelas lá no céu.
Até o próximo livro!
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