Sempre me
intriga a notícia
de que alguém
foi preso
“em atitude
suspeita”.
É uma frase
cheia de significados.
(Luis Fernando Veríssimo)
Reparou que quando não andamos na mesma mão
da maioria rapidamente ganhamos rótulos no meio em que vivemos? É muito difícil
as pessoas entenderem que cada pessoa é um ser único. E que gostos, credos,
cores... Não formam caráter. Aliás, o que é mesmo caráter, heim? Caráter, para a
psicologia é a individualidade pessoal e social de alguém. Individualidade...
Cada ser nesse mundo é um indivíduo ímpar, incomparável e insubstituível. Logo, não há como pensamentos serem exatamente
iguais.
A sociedade criou estereótipos
comportamentais tão fortes e tão antigos que esses se impregnaram em nós como
se fossem parte do nosso próprio DNA.
Parece tolice, não é? Mas pense em quantas vezes você evitou a manga com leite
ou passar embaixo de escada? Ainda acha pouco? Quantas vezes ao perceber o
olhar de uma criança de rua vindo em sua direção, você apertou contra si mais
forte a bolsa que carregava temendo o roubo? Quantas vezes você se surpreende
com um vídeo onde um morador de rua revela algum talento não compatível a sua
realidade social? Mas será que toda criança de rua rouba, todo mendigo é burro,
todo roqueiro adora o diabo, todo evangélico está salvo, todo anjo é puro? A
generalização e banalização dos comportamentos podem acarretar no não entendimento
de um todo e por isso mesmo no cometimento de injustiças.
Certa vez um homem que admirava muito por
sua inteligência sentenciou em uma conversa: “Não se pode amar uma prostituta.
Elas não querem ser de família”. Todo o meu encanto por aquele homem quebrou-se
como cristal ao cair no chão. Explico-me. Convivi com prostitutas, conversei
com elas várias vezes, e suas histórias são geralmente de muita dor. E a grande
maioria adoraria não estar ali e ter o direito a ter um casamento sóbrio, feliz
onde elas fossem amadas e respeitadas. São mulheres de posição firmes e
aparentemente frias. Contudo, muitas delas escondem nas atitudes distantes
corações apaixonantes para poderem continuar vivas naquele meio. Este homem,
nordestino, com certa idade, criado para ver até mesmo a própria esposa como
procriadora; teve, provavelmente, esse estereótipo implantado nele desde cedo.
E hoje se incapacitou para uma visão mais ampla da situação.
Outra situação vivi há pouco tempo quando
saí de uma reunião em uma empresa e ao ligar o meu celular um dos supervisores
percebeu que eu ouvia Kiss. Ele me perguntou “Você é roqueira?”. E eu com um
sorriso amistoso disse que sim. Ele disse como pode uma mulher tão refinada
gostar disso. Fui obrigada a gargalhar dentro do elevador. E depois vendo que
ele não cederia dentro de sua concepção eu o encarei e disse baixinho: “O pior
você nem imagina. Também como morcegos!”.
O que quero com os dois exemplos é mostrar
que é preciso que aprendamos um meio de fugir desses conceitos que nos incutem antes mesmo que possamos ter uma consciência crítica do assunto. É preciso que,
como pais e educadores, comecemos a construir uma nova geração capaz de
entender por si e para si o conceito de certo e errado, bom e ruim, bem e
mal... É possível, por incrível que pareça fazer uma criança pensar em ação e
reação, atos e consequências, erro e perdão... Sem ter que falar em pecado, sem
ter que criar fórmulas para tudo, sem ter que criar modelos... Educar com
consciência e respeito, com amor consciente e não cego. É importante que os
pais entendam que seus filhos são para o mundo e como tal serão responsáveis
pelo o que adicionarem ao mesmo.
Ninguém é suspeito por andar de preto, por
ser caladão, por falar com plantas, por ler poesia. Nenhum menino é homossexual
só porque usa rosa. Nenhuma menina é lésbica só porque joga bola. Deus não
castiga se você xingar um palavrão quando estiver com raiva. Os pais não têm
sempre razão porque são humanos. Ninguém tem que agir contra si para se
enquadrar em um grupo. É preciso que nos
conheçamos melhor que aos outros. Ainda que isso nos deixe em atitude suspeita.
Até breve!!!
Até breve!!!
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